CÁRCERE


Entrei no cômodo ofegante, me deparei com o segurança me fitando por completo. Ele talvez pensou que eu fosse parte do show de terror. Ou só estava entediado de olhar para as mesmas formas e se utilizou do recém-chegado para pintar suas vistas de novas cores. Não tive tempo para concluir: não sei se sorri, depois segui para a primeira figura que vi. Ainda ofegava, ali não tinha porta senão aquela pela qual eu entrara. Nunca fui claustrofóbico, porém aquele cenário me fazia sentir sufocado de tal forma que eu sentia que uma das cordas penduradas na parede estava se arrastando ao meu pescoço. Eu ainda achava que o segurança procurava meus movimentos, então me fingi interessado no que via, mas nem bem isso sabia: não sabia para o quê olhar. Não demorei muito naquele cômodo e fui para o cômodo anexo; eu sabia que voltar para a porta pela qual entrei não iria me levar a lugar algum.
Cheguei no próximo cômodo, dessa vez a segurança era mulher. Nem pareceu notar minha presença eufórica. Será que as pessoas sempre reagiam assim? Olhei para as paredes ao lado, uma estrutura de metal vermelha deixava a parede, ao lado pude ler a legenda “A Máscara”. Tentei, juro, abstrair durante alguns 10 segundos o quê daquilo queria dizer uma máscara, porém debalde. Não levo jeito pra isso, pensei. Ouvi um berro no cômodo ao lado, olhei subitamente. Corri para ver do que se tratava. Era uma tela. Ela tinha formas geométricas de cores distintas, principalmente concentradas no lado direito de quem vê. A tela por algum motivo berrava. Olhei ao lado, não lembro do que vi.
No próximo cômodo as coisas se mexiam. Quadrados dentro de quadrados se moviam para dentro e para fora da superfície. Em outra, três palhetas finas e sobrepostas, unidas e seguradas no ar por um ferro fincado no meio delas, se esgrimavam com outras três palhetas de iguais características. Não compreendi a maquinaria, que fazia um ruído mecânico e tedioso. Deve ser por isso que não vi segurança nesse.
Achei que voltar fosse o melhor. Voltar por onde entrei no início do desafio.
O segurança da primeira porta estava conversando com outro rapaz, que dizia que havia apreciado o show, e perguntava o que era o homem gritando. Não era um homem, dizia o segurança, era uma ave. De rapina, pensei. Enquanto saía o segurança questionou se eu havia visto tudo. Sim, respondi. Receio que não, o final é lá, ele disse. Então havia um final, pensei.
Eu não tive como responder. Mergulhei no labirinto de novo. Não tenho certeza se as formas eram diferentes ou só minhas sensações distintas da primeira vez tornaram a apreciação uma outra. Mas não queria descobri-lo. Passei andando direto, um casal de meia idade tentava decifrar um dos enigmas. Segui o caminho para o fim. Passei pelas maquinarias, ave berrando, formas geométricas. Me impressiona que não há humanos nus. E vi uma porta. Saí, caí num corredor. Havia uma porta à frente e uma à esquerda no final do corredor. As duas certamente abrigavam alguma das estranhas formas. Fui para a direita, seguindo o corredor sem saber onde ia dar. Cheguei a um outro corredor - que findava em uma parede, aparentemente bem sólida e limpa - o qual dava destino a uma outra porta. Entrei. Cheguei a um outro cômodo. Linhas tomavam a parede como se aranhas o tivessem feito. O prédio era conservado, não podiam ser aranhas. Ademais a linha era vermelha. Não tentei ver se havia algum segurança. Segui ofegante para o cômodo ao lado.
Cheguei a um cômodo escuro, que de súbito incitou um barulho, me fez tapar os ouvidos, e me jogou para a porta ao lado. Me vi em um corredor iluminado e silencioso. Só vi grandes janelas acopladas à parede, que iam do chão até duas vezes a minha altura. Dos dois lados o corredor findava, a única saída era pela porta pela qual cheguei, à qual não iria recorrer.
O horror tem que acabar.
Olhei para baixo, estava no terceiro andar. No primeiro piso pude ver que pessoas conversavam e comiam em volta de mesas no café do prédio. Soquei a janela pedindo socorro, ninguém me ouviu, conversavam. Ouvi mais um barulho estrondoso vindo do cômodo do qual saí e mais algum grito. Empurrei a janela com força, de tal forma que ela se soltou e me vi caindo ao destino telúrico.
Quando cheguei ao chão, as pessoas me olharam. Pararam suas conversas, o silêncio reinou.
Estupefatas, olhavam para mim. Do invocado silêncio, um barulho trombeteou do terceiro andar. A surpresa das pessoas elevaram seus olhos ao som, e vendo janela, estrondo e berro, iniciaram seus aplausos.
Pensaram: meu cappuccino está pronto, e esse lugar respira arte!


Vinícius Figueiredo


Imagem de M. C. Escher

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