O mundo era de sons e gritos
E trazíamos conosco aquela alegria juvenil que a poucos
demonstramos.
Não nos amávamos nem nos odiávamos, e, no entanto, éramos nós
mesmos.
Alguém recitou um poema
Os outros atentamente ouviam com deleite e cólera.
E quando saímos, andamos pelos caminhos retos de maneiras
tortas
Com as pernas de quem se perde do passo,
Com a direção de quem não sabe onde vai,
Com os empurrões de quem tem pressa, mas que deseja que a
noite nunca acabe.
Quem nos olha de fora, a esses cegamos.
Nunca nos reconheceriam:
Os deixamos prosopagnósticos
Num ímpeto gesto de quem não quer ser olhado.
São poucos os contatos, mas suficientes.
São pequenos, mas decifráveis.
E compõem o que há de falta nas interações esparsas e dúbias.
A noite termina sem significado algum,
E desaparece quando os últimos feixes de luzes
Esmaecem no vestígio de visão que nos resta.
Arthur Leveno
Imagem: Jeremiah Morelli